segunda-feira, janeiro 14, 2008

Editorial

Na Argentina pega o pau. No Brasil, o povo relaxa e goza

13 / 01 / 08

O caos aéreo não é um privilégio dos brasileiros. Também na Argentina, o céu não é de brigadeiro. Porém, uma diferença na maneira de reagir desses dois povos deve ser analisada. Os brasileiros se conformam com tudo, relaxam e gozam. Lá, nas terras portenhas, pega o pau, mas ninguém goza e muito menos relaxa.

Segundo notícia postada na internet, pela agência Reuters, “passageiros frustrados destruíram guichês e atiraram objetos nos funcionários da Aerolineas Argentinas, no principal aeroporto argentino, no sábado, 12 de janeiro, depois que a maior companhia aérea do país cancelou os vôos internacionais, pelo segundo dia consecutivo”. Tudo isso por conta dos “atrasos provocados pela greve dos carregadores de bagagem e pelo abandono dos guichês. A greve por melhores salários vem provocando atrasos no aeroporto situado em um subúrbio de Buenos Aires desde sexta-feira, 11”, afirmou a Reuters. Milhares de passageiros ficaram presos no local após a Aerolineas Argentinas cancelar seus vôos internacionais, segundo a imprensa local. A Aerolineas Argentinas é controlada pela Marsans, da Espanha, que detém 95 por cento da empresa, e o restante é do governo argentino.

As atitudes adotadas pelos argentinos, em períodos de crise, quando as autoridades tomam decisões que prejudicam a população, diferenciam esse povo de seus vizinhos da América do Sul. Medidas econômicas antipáticas e nocivas ao bolso do consumidor, ausência do Estado em áreas essenciais como saúde, educação, segurança, transportes, etc., são rechaçadas imediatamente, por uma significativa parcela da sociedade argentina.

Esse povo guerreiro, sempre que atacado ou prejudicado em seus direitos, sai às ruas, realiza panelaço e até quebra-quebra, como maneira de chamar a atenção dos governantes para problemas cruciais. O exemplo das Mães da Plaza de Mayo é clássico e respeitado no mundo inteiro.

Da mesma forma, quando empresas concessionárias deixam de prestar serviços essenciais, para os quais são autorizadas, a reação é imediata, como agora está acontecendo, no caso da Aerolineas Argentinas, que simplesmente cancelou vôos e nenhuma explicação deu aos argentinos.

Reações desse tipo, os protestos populares na Argentina, se não desencadeiam em violência extrema e não colocam em risco a vida dos próprios manifestantes e de terceiros, devem ser respeitadas. É o direito de um povo de reagir e se manifestar, quando é desrespeitado nos seus direitos mais elementares.

Aqui no Brasil, os brasileiros preferem relaxar e gozar. Infelizmente, procedem assim.

Historicamente, os brasileiros são cordeiros, omissos. Preferem futebol, samba, foguetório, cachaçada, cerveja, drogas ilícitas, festas e eventos. É um povo alegre, sempre de farra. Ri de tudo, mesmo quando é estuprado pelos políticos e administradores públicos. Considerável parcela dos adultos, é omissa até por ignorância. Quando se propõe uma discussão qualquer, em busca de solução para um problema grave, como saúde, segurança, por exemplo, logo alguém invoca o velho bordão: “Se a gente ficar só discutindo, vamos ficar loucos. Temos que relaxar”. Nesse quadro se encaixam perfeitamente um grande número de jovens, entrincheirados em eventos e mais eventos, trilhando o submundo das drogas.

No posto de trabalho ou na escola, na segunda-feira, eles comentam as baladas, bebedeiras e rodadas de drogas do fim de semana. Na terça, agendam as festas de quarta, dia nacional do sofá, recentemente trocado pelas algazarras das lojas de conveniências de postos de combustíveis. Na quinta, contam vitórias, lembram badernas, rachas com carros e motos, choram as vítimas do asfalto e do tráfico. E na sexta, passam a planejar as festas da noite do final de semana próximo.

Tudo isso, muito bem assessorados pelos gurus das rádios fm, que são capazes de agitar até mortos no terceiro dia. Assim age e reage uma boa parcela dos jovens, aqueles que herdarão o Brasil. Se hoje eles, inclusive os universitários, alienados e omissos, nada cobram das autoridades e dos políticos, se preferem permanecer encharcados de álcool e anestesiados pelas drogas, não terão herança no futuro. É do conhecimento nacional, que a classe média consome 65 das drogas ilícitas, que é comercializada no Brasil.

Felizmente, ainda podemos contar com as boas exceções: jovens que se divertem, mas que verdadeiramente estudam e até trabalham. São os chamados “caretas”. Num futuro bem próximo, eles serão os administradores das empresas públicas e privadas; serão os empregadores. E, os muitos loucos, extremamente alegres de hoje, cheiradores até de cueca suja, beberrões, destes, os que sobreviverem nas batalhas do trânsito e na guerra do tráfico, terão que se contentar com posições inferiores, subalternas, menos remuneradas. Serão os empregados, os comandados. Se é que conseguirão emprego, no cada vez mais competitivo mercado.

Recentemente, convivi, bem de perto, com um grupo de Angolanos, no balneário Ponta do Papagaio, um paraíso que Palhoça, em Santa Catarina, oferece ao mundo. Constatei aquilo que já sabia. Jovens e adultos de outros países conhecem, talvez, até mais dos importantes temas, dos recursos naturais e problemas do Brasil, que uma grande maioria dos brasileiros.

Aqui, no Brasil, impera o desrespeito com a nação, por culpa da alienação. Somente para citarmos um exemplo recente, o presidente da República jurou, nos últimos dias de 2007, que não haveria aumento de impostos. Até puxou as orelhas do ministro da Economia, Guido Mantega, que anunciou medidas tributárias para compensar a perda da CPMF. Mas, logo a seguir, o sr. Lula da Silva (Cháves Morales), autorizou o aumento do IOF, penalizando os brasileiros com mais impostos, uma sociedade que já paga a maior carga tributária do mundo. Mentiu à Nação, o presidente, que há anos age de maneira dissimulada, sempre dizendo uma coisa e realizando outra. E o pior aconteceu com a fala do ministro Mantega: quando cobrado pela imprensa, ainda saiu em defesa do chefe maior da república do mensalão. Na maior cara de pau, algo somente atribuído a quem perdeu qualquer noção de dignidade e ética, o sr. ministro disse que Lula da Silva, o falastrão, prometera que não aumentaria impostos em 2007. Mas, a declaração do presidente aconteceu nos últimos dias do ano. Ambos assumiram posturas nada condizentes com os cargos que ocupam. Não respeitaram os brasileiros.

Façam isso na Argentina, e o povo sairá às ruas para protestar. Seria um panelaço ensurdecedor. Aqui, no mais grave momento do apagão aéreo, uma crise sem precedentes, a ministra amiguinha de Lula da Silva, a loirosa Martha Suplicy, aconselhou o povo a relaxar e gozar. Quando ocorreu a tragédia com o avião da Tam, matando 199 pessoas em São Paulo, e a imprensa cobrou uma posição do Governo Federal, um de seus membros, outro amiguíssimo de Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, o ministro de qualquer coisa, fez gestos obscenos à Nação. Mais uma vez, o governo humilhou os brasileiros. Um gesto horrendo de um homem desqualificado, praticado no Palácio do Planalto, a poucos metros da mesa do sempre sindicalista Lula da Silva.

Omissão e alienação não podem fazer parte do currículo de um povo, que sonha com o progresso e a organização social.