segunda-feira, fevereiro 04, 2008

A corrupção, vista por outros olhos

A condenação de um ex-prefeito chinês, à pena de morte, por envolvimento em crime de corrupção – aceitou dinheiro de empresas –, nos conduz, inevitavelmente, a uma reflexão. Não pretendemos elaborar um tratado sobre a corrupção e seus tentáculos, grudados no crime organizado e estendidos nos corredores dos palácios. São simples conjecturas, sem grandes pretensões.

Tentaremos um comparativo com a realidade brasileira, onde grupos palacianos de Brasília, principalmente esses, da república do mensalão, desviam o dinheiro público, aceitam a propina de empresas e até se envolvem com o crime organizado, do qual subtraem verbas de campanha, segundo denúncia de Procuradores da República. E nada acontece. Nenhuma punição é imposta. Os processos rolam na justiça, durante anos, até o fato cair no esquecimento, ou ser superado por outro escândalo mais rumoroso. Que vergonha, Brasil!

Necessário se faz, lembrar aquilo que a imprensa divulgou, em julho de 2005, e que as “otoridades” não deram muita atenção. “Máfia financia campanhas eleitorais no país” (Diário Catarinense, 22 / 7 / 05). Disse o jornal: “Procuradores regionais da República depõem na CPI dos Bingos e reforçam denúncias da existência de relação promíscua entre políticos e autoridades do poder público com o crime organizado”. Denúncia da maior gravidade.

Quatro procuradores regionais da República reforçaram, para os integrantes da CPI, a existência de uma ‘máfia’ que controla os jogos no país. Os procuradores, entre eles Celso Três, de Tubarão(SC), apontaram a existência de uma ‘promiscuidade’ entre políticos e autoridades do poder público e os grupos que formam o crime organizado no país.

Isso quase que explica o porquê da omissão da classe política, em relação à ação de quadrilhas de bandidos, sejam eles usuários de paletó de grife ou tênis sujo, gangues de menores, que agem impunemente। Se certos políticos produzirem uma legislação mais eficiente e exigirem o seu cumprimento, estarão cometendo “suicídio”. Aumentaria, consideravelmente, a procura por celas especiais.

Mas, se fosse instituída a pena de morte no Brasil, para punir políticos corruptos, com toda certeza, eles encontrariam uma maneira sorrateira de roubar o dinheiro destinado às despesas com os preparativos para as execuções. É claro que esses recursos já seriam superfaturados. Também poderia ser criada a caixinha, um caixa dois das execuções. O próprio condenado tentaria corromper o carrasco, na hora decisiva. E não há porque duvidar: o carrasco seria um corrupto, estrategicamente colocado naquela função. Equipamentos de execução seriam roubados ou sabotados e jamais estariam disponíveis na hora das execuções. Mas, na hora de executar pobres, negros, prostitutas da periferia, os instrumentos seriam de uma eficiência extrema. Prostitutas pobres, essas seriam executadas. Porque as prostitutas de grife, essas gozam – e como gozam! – quase que dos mesmos privilégios dos políticos, para os quais prestam serviços.

Mas, se as punições viessem a ocorrer, o setor público e a iniciativa privada precisariam investir pesado na construção de novos cemitérios, centenas deles, e fornos crematórios. Teríamos, assim, dezenas de execuções e funerais todos os dias, dado o alto índice de corrupção no país. No Brasil a corrupção já faz parte das instituições. Ela faz parte do dia a dia do cidadão e eclode escandalosamente nos palácios.

Para punir, exemplarmente, nem precisaria pena de morte. Bastaria uma condenação, com a real prisão do político corrupto. Apenas um, apodrecendo na cadeia, e os demais já seriam mais cautelosos, no trato com o dinheiro público, e evitariam a promiscuidade com a iniciativa privada, e fugiriam do dinheiro sujo do crime organizado. Mas nada, nenhum sinal dos efeitos da justiça sobre os políticos corruptos. E, sabe-se, a impunidade incentiva o crime.

Como consolo, vale lembrar que instituições brasileiras, como a Transparência Brasil, o Ministério Público, a Controladoria Geral da União (CGU), só para citar algumas, e internacionais, estão preocupadas com a corrupção no mundo, particularmente em países emergentes, como o Brasil. O assunto foi tratado, recentemente, na ONU.

No Oriente, onde impera a ética dos povos dos olhinhos apertados, a corrupção é vista com outros olhos.

(Texto: Baby Espíndola)

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