quarta-feira, julho 02, 2008

A CRÔNICA DO ACONTECIDO

O BÊBADO E OS MOTORISTAS, NO CALDEIRÃO DO INFERNO DE SÃO JOSÉ

"Pára, demônio!" Na ausência da autoridade legítima, que abandona o cidadão, um bêbado assume o comando do trânsito
Fotos: Baby Espíndola

Pouco mais de 24 horas após o advento da lei seca no asfalto – que condena desde o consumo de um bombom com recheio de rum, até porres estratosféricos –, um homem, completamente embriagado, tentava impor disciplina, no trânsito, em São José, cidade da Grande Florianópolis, em Santa Catarina.

Domingo, 22 de junho, 11 horas. Confusão no trânsito, em conseqüência da interdição do acesso à Via Expressa, primeiro trecho da BR-202, na divisa entre Florianópolis e São José.

Aparentemente, o Dnit, responsável pelas obras de recapeamento asfáltico da Via Expressa (que, devido ao intenso volume de veículos, já deveria estar quadruplicada), apenas instalou uma placa anunciando “trânsito interrompido”. Traduzindo: simplesmente jogou os veículos para os raios que os parta. Que se danem os motoristas, no país, onde o Estado / Nação abandona o cidadão à própria sorte.

Com o desvio forçado, todos os veículos, procedentes da Avenida Josué Di Bernardi, que recolhe o trânsito de Campinas, Kobrasol, foram imediatamente jogados na Rua Jerôncio Thives, em São José. Há que se ressaltar que, com a interdição da Via Expressa, o único caminho para se alcançar a BR-101, naquela ensolarada manhã de domingo, eram as ruelas de São José.

Então, com o trânsito completamente congestionado, num palco de desordem, onde motoristas de automóveis, ônibus e caminhões, disputavam, na porrada, o espaço para suas rodas ansiosas, surge o nosso aventureiro personagem: O Bêbado e os motoristas – numa clara alusão à famosa canção de João Bosco, gravada por Elis Regina, “O Bêbado e o equilibrista”. Pois ele mal se equilibrava sobre as pernas bambas. Algo muito parecido com o que acontece em Brasília.

Na Rua Jerôncio Thives, a poucos metros da Prefeitura de São José e do Shopping Center Itaguaçu, para onde se acotovelava todo o trânsito da região compreendida entre Campinas, Kobrasol, em São José, Jardim Atlântico, Pasto do Gado, Vila São João, Capoeiras, em Florianópolis, as circunstâncias exigiam a presença do lendário guardinha de trânsito:

Figura folclórica, a cada dia mais esquecida pelo Estado arrecadador, que utiliza o Detran como caixa forte, a PM como órgão repressor, para aplicar multas e etc., mas que vira as costas ao cidadão, que deveria ser a atividade-fim do serviço público.

Mas, o guardinha fardado – fardado e honrado! – não apareceu. Porque, em São José, a Guarda Municipal, especialista em multas, tomou para si a responsabilidade de cuidar do trânsito. E cuida muito bem, de caneta e bloco de multas na mão.

Naquela confusa manhã de domingo, 22 de junho, não houve a necessária comunicação entre o Dnit e as autoridades de São José. Quem falhou? O Dnit comunicou, às autoridades, que fecharia a Via Expressa? Não acredito. Creio que simplesmente interditou, de maneira autoritária, a Via Expressa. Mas, se fez a comunicação, os responsáveis pelo trânsito na região não deram a mínima.

Com o palco do circo vazio, apresentou-se um voluntário: o bêbado da foto. Sem o tradicional apito e atitudes nada convenientes, ele comandou o trânsito, durante horas, numa esquina, a poucos palmos da Prefeitura de São José. Para parar os afobados, com os olhos arregalados e voz estridente, ele gritava: “Pára, demônio!”. Para autorizar a passagem: “Vem diabo!”. Tudo isso, segundo ele próprio, “no caldeirão do inferno”. Entre uma manobra arriscada e outra, pedia uma moeda. Valores muito aquém daqueles aplicados pelos multadores.

"Não tem lei mesmo. Aqui quem manda sou eu". E com razão. O homem comandou e mandou, durante horas.

Por finalmente, é de se perguntar: e a Guarda Municipal de São José, onde estava? Multando, em outros pontos da cidade? Ou protegendo o prefeito Fernando Elias, em mais uma extravagante aventura política? – ele que, nos últimos dois anos, está sempre à beira do abismo do impeachment? Pois, em São José, a impressão que se tem é que a Guarda Municipal é a segurança particular do cidadão Fernando Elias.

Em se tratando de um município, economicamente importante, como São José, a autoridade de trânsito precisa monitorar os principais pontos da cidade, sempre pronta para interferir, em caso de emergência.

Enquanto isso, espaço aberto para as estrambólicas aventuras do bêbado e seus motoristas.

Baby Espíndola

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