domingo, julho 05, 2009

Editorial – GREVE DO TRANSPORTE COLETIVO, A NOVELA SEM FIM

A quarta greve do transporte coletivo, que atingiu os principais municípios da Região Metropolitana de Florianópolis, mais parece uma novela sem fim.

Sem fim, porque uma solução definitiva não foi encontrada pelas partes diretamente envolvidas na contenda. Os grevistas apenas deram uma trégua. Mas, como o impasse persiste, não demora muito e, novamente, a clientela do único meio de transporte coletivo regional será usada como massa de manobra. E, pela omissão das “otoridades” do Executivo autoritário, do Legislativo podre e do Judiciário cego, os clientes do caótico transporte vão pagar as contas. E já estão pagando. Aliás, sempre pagam.

Vejam que trato as pessoas que dependem dos ônibus como clientes, e não usuários. Devemos evitar o termo “usuário”, que soa pejorativo, pobre, o que é de interesse de alguns políticos poderosos, que, há anos, não utilizam as ruas e estradas congestionadas da Região Metropolitana de Florianópolis.

Aqueles, que insistem em permanecer empoleirados no poder, usam helicópteros até para vencer pequenas distâncias, de pouco mais de dez quilômetros, como é o caso da “ponte aérea” Florianópolis / Palhoça. Já os comuns mortais se arrombam no trânsito terrestre, vergonhosamente congestionado.

A greve do transporte coletivo é fruto de um sindicalismo autoritário, atitude muito própria da turma da cueca vermelha. Atinge impiedosamente mais de 200 mil pessoas, diariamente, por conta da omissão das “otoridades”, e pela incompetência da Justiça Trabalhista, que pune, mas não pune; que toma decisões que ninguém cumpre. Porque, de um modo geral, no Brasil, decisões judiciais não são cumpridas pelos poderosos. E os sindicatos são poderosos.

Na cobrança por uma solução imediata, toda a mediação é atirada, como pedra burocrática, nos ombros do prefeito Dário Berger (PMDB), de Florianópolis. Mas, precisamos entender que o sistema é semi-integrado, numa composição que envolve, além da Capital, também os municípios de Santo Amaro da Imperatriz, Palhoça, São José e Biguaçu.

Portanto, os demais prefeitos deveriam ser chamados à mesa de negociação. E os munícipes, de forma organizada, precisam aprender a exercer algum tipo de pressão sobre todos os prefeitos, cobrando também um envolvimento das Casas Legislativas, na solução do problema transporte coletivo.

E o Governo do Estado, porque não se manifesta? Ou, os sofredores do transporte coletivo não são catarinenses!? Todos os administradores públicos da região têm sua parcela de culpa. Particularmente o Governo Estadual. Desde o primeiro mandato, o governador Luiz Henrique da Silveira vem prometendo metrô de superfície. Mas, até agora, nenhum metro de metrô foi construído.

E onde está o tão anunciado transporte marítimo? O que se sabe é que os sucessivos projetos para implantação do transporte marítimo acabam sempre naufragando nos esgotos da burocracia, sufocados por interesses mesquinhos.

Não se pode, também, omitir a culpabilidade do Governo Federal, no encarecimento do transporte coletivo, em todo o Brasil. Todos os impostos juntos, que incidem sobre o transporte coletivo, aumentam em mais de 40 por cento os valores das passagens. A carga tributária, que penaliza as empresas do transporte coletivo, na verdade, varia entre 42 e 48 por cento, segundo estudos estatísticos divergentes. Seja qual for o índice real, é vergonhoso.

Enquanto o presidente Lula da Silva arrota um discurso em defesa dos “mais pobri”, na realidade, explora essa massa menos conhecedora de seus direitos, e que não tem acesso à informação. Justamente por isso, mais fácil de se iludir.

Não há como esconder. Também no quesito transporte coletivo, o governo da república brasileira do mensalão sacrifica justamente os mais pobres. O “cumpanhero” sindicalista jura que governa para “us pobri”, mas destes arranca o couro com a maior carga tributária do mundo. Inclusive sobre as passagens do transporte.

Sem tantos impostos sobre o transporte coletivo, o valor das tarifas dos coletivos certamente seria reduzido, e, além disso, as empresas poderiam pagar melhores salários aos funcionários.

Mas, o império federal do mensalão, um similar da Roma Antiga, não demonstra nenhum interesse em caminhar no sentido da desoneração. Sempre buscando a popularidade, Lula da Silva reduziu o IPI dos automóveis e motocicletas, o que privilegiou o transporte individual, em detrimento do coletivo, justamente o que atinge a maior parte da população. Reduzir o IPI que incide sobre chassis, motores, peças, pneus e carrocerias de ônibus, vagões de trens e metrô, essa, sim, seria uma ótima medida.

A desoneração dos custos do transporte coletivo urbano, ao que parece, é a melhor saída para o problema crônico. Mas, uma solução parece muito distante. Os trabalhadores não admitem achatar salários, as empresas afirmam perdas constantes, devido aos aumentos de insumos, e o Governo Federal pretende arrecadar cada vez mais.

Enquanto isso, as conseqüências das sucessivas greves são desastrosas. Quem, por força das circunstâncias, precisa trafegar com carro próprio, no centro (Ilha) da capital catarinense, está sentindo o caos viário da segunda pior cidade em mobilidade do mundo. Espremida entre montanhas e o mar, a cidade de Florianópolis, vive dias difíceis. E, por falta de planejamento, pior ainda, porque os planos aprovados não são executados, o sistema viário do eixo São José / Florianópolis tende a se transformar num verdadeiro inferno.

Agravam a situação, os milhares de veículos que invadem a região, a cada greve – a quarta, somente este ano –, situação que deve se tornar permanente, por falta de alternativas no sistema viário, mas, principalmente, porque o transporte coletivo é invariavelmente ineficiente e, a partir de fatos recentes, pouco confiável.

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