domingo, junho 23, 2013

AS MISTURANÇAS DE FUTEBOL E POLÍTICA

Os políticos oportunistas tiram proveito do futebol. O Brasil de chuteiras dá votos


Ao se manifestar sobre os trovões dos protestos, que sacodem o Brasil e ecoam no mundo, Carlos Alberto, o Parreira, chutou uma grande bobagem. Aos jornalistas, que babam jogadores, Parreira insistiu numa teoria estapafúrdia. Afirmou, com ufanismo verde-amarelo, que “futebol e política não se misturam”.

Ah, se misturam, sim. E muito. Na verdade, a política está embutida em tudo. Quando você oferece um sagrado pãozinho ao seu filho, lá está a desgraçada da política, sob a forma de impostos, política de produção e armazenamento do trigo, regras para cultivo, ou medidas regulatórias de importação.

Quando alguém presenteia uma criança, com uma bola de futebol – chegamos ao ponto, Parreira –, está pagando impostos embutidos, que tornam cada chute muito caro. Além disso, a empresa que produziu, a loja que vendeu a bola, pagaram pesados impostos, e também arcaram com encargos sociais que tornam a atividade mercadológica quase impraticável.

Então, veja, senhor Parreira. Até aqui, o roteiro cruza futebol com política, que podemos classificar como intromissão do Estado/Nação.

E, o senhor sabe muito bem, o quanto a política interfere no futebol. Durante a era do Governo Militar – ah, o senhor, com certeza, lembra muito bem! –, um presidente indicava jogadores para a Seleção Brasileira. A Wikipédia insinua que "o título (o tricampeonato) serviu de propaganda política, quando o país estava no auge da ditadura militar". Parreira era membro da comissão técnica.

O senhor Parreira também sabe muito bem o quanto os políticos oportunistas tiram de proveito, a cada quatro anos, com os resultados da Copa do Mundo. O Brasil de chuteiras dá votos. Por conveniência, a Copa Mundial coincide com o calendário eleitoral, para presidente da República e outros cargos eletivos. Muito conveniente, principalmente quando os canarinhos cantam em campo.

Então, senhor Parreira, está satisfeito? Agora, acredita que futebol e política se misturam? Se essa argumentação não foi suficiente para convencê-lo, pretendo acrescentar outros detalhes, para reavivar sua memória.

Conhece João Havelange? Ah, claro que conhece. Parreira foi guru dele, a partir dos anos 70, na CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e, depois, na herdeira CBF, Havelange também opinava sobre um certo distanciamento entre futebol e política. Mas, soube, como poucos, tirar proveito da relação com os militares e com outros presidentes, que os sucederam. Um ensinamento que Parreira aprendeu, como bom discípulo. Pois também soube tirar proveito dos políticos, que gerenciam a política, que dita ordens para a CBF.

Pois muito bem, Parreira, Parreirinha, Parreirão, por fim, vou lhe lembrar um hino de reação: “Caminhando e cantando e seguindo a canção (...). Geraldo Vandré. Música proibida pela censura, no Governo Militar. Pois é. Naqueles tempos, eu rodava Vandré, numa rádio. Era só para provocar os órgãos de repressão. Também rodava canções campesinas do ativista político chileno, Victor Jara. Também só para discordar das regras impostas. Eu combatia o Governo Militar, no qual o senhor Parreira estava encostado.

Mas, os tempos mudaram. Hoje eu contesto atitudes do governo da republiqueta do mensalão. E você, Parreira, continua coladinho na CBF, no Governo Federal. É coordenador técnico da seleção. Mudaram os patrões, uma estrela vermelha tomou o lugar das estrelas douradas dos generais, e Parreira continua aproveitando todas as benesses, dessa mistura volátil e explosiva de futebol e política.


Viu, Parreira. Futebol e política jogam juntos. Então, deixa os jovens protestarem, contra as gastanças nos estádios, contra a corrupção. E não atrapalha. Carrega os sacos de bolas, com a marca da Fifa, e vai cantarolando esse refrão: "Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer". E não diz bobagem, Parreira.
(Baby Espíndola)

Nenhum comentário: