sexta-feira, outubro 31, 2014

NAVEGAR É PRECISO. É POSSÍVEL NAVEGAR


Não importa como. Navegar é preciso. Utilizando, inclusive, recursos naturais, como fez a ave das fotos, um socó, velho habitante do Rio Aririú.

Quero contar, que ainda lembro muito bem da navegação, em meados dos anos 1950. Canoas de garapivu, bateiras montadas com madeira e pregos de cobre, calafetadas com alcatrão, batelões e os saudosos botes à vela.

Uma verga de bambu, um remo artesanal, uma vela aos ventos, tudo isso era utilizado para impulsionar essa navegação rudimentar, mas muito eficiente.

Meu avô paterno, da tribo Espíndola, usava canoas e lanchas, na pescaria de tainhas, anchovas e outras espécies marítimas. Claro que também pescava camarão, tanhotas e parati, no Rio Aririú e no Rio Cubatão.

Já o avô materno, Zé Manduca, da tribo Alves, pescava muito pouco. Se ocupava bem mais com as roças de mandioca, aipim, milho, feijão. Cuidava do gado, e fazia farinha no engenho.

Mas, também exercia a atividade paralela de “pombeiro” – até hoje não entendo o porquê do nome, pois não negociava com pombos. Porém, sabe-se que pombeiro é um comerciante ambulante que compra e vende de tudo um pouco. É um personagem folclórico dos Açores e do litoral catarinense.

Zé Manduca comprava e vendia, sim, galinhas, ovos, verduras, frutas, charque, açúcar mascavo, lenha. Comprava dos vizinhos, ia longe recolher as mercadorias, e revendia no Mercado Público, em Florianópolis.

O transporte, para entregar essas mercadorias aos clientes, na Ilha, utilizava o sistema aquaviário, ou hidroviário. Esse é o ponto dessa conversação. O velho Zé Manduca usava um bote à vela como meio de transporte.

Duas ou três vezes por semana, o bote de velas brancas partia do “porto”, na Vila Nova, bem cedinho, antes do sol nascer. Navegava pelo Rio Aririú até alcançar a Baía Sul. Costumava retornar, do Mercado Público, sempre no comecinho da tarde, trazendo querosene, ferramentas, cordas, sal, açúcar refinado. Para consumo próprio e para revender.

Fui caroneiro do bote de peroba, algumas vezes. Lembro ainda, da minha satisfação de menino, vendo o sol nascendo, avermelhado, enorme, por cima das águas, que batiam crespas no casco do barco.

Ainda lembro... Costumava passar a noite acordado, espreitando, com os ouvidos atentos a qualquer ruido, os olhos arregalados, caçando a primeira luz da lamparina. A luz e o galo, que cantava para anunciar o dia, me convenciam a pular da cama. Mesmo numa madrugada fria. É que o Vô Manduca estava preparando o bote para partir.

Estou, apenas, pretendendo dizer que navegar é preciso. Que é possível navegar. Que o transporte marítimo, interligando Palhoça, São José, Florianópolis e Biguaçu, é uma excelente alternativa, para amenizar os problemas decorrentes da falta de mobilidade urbana.

A ave das fotos, um socó pousado sobre uma jangadinha improvisada, um “bote” de entulhos, está indicando o caminho da navegação. Navegar é preciso. É possível navegar.
[31 10 14]

Fotos: Baby Espíndola Repórter





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